domingo, 29 de maio de 2011

Em corrida emocionante, Vettel triunfa em Mônaco

Sebastian Vettel comemora sua quinta vitória em 2011 e
primeira em Mônaco, depois de uma longa disputa
com Fernando Alonso e Jenson Button

Quando foi anunciado em 1929 que um "Grand Prix" seria organizado pela primeira vez  em Mônaco, a revista especializada Autocar fez o seguinte comentário : "A audácia chega a limites incríveis em certos locais da Europa. Por exemplo, essa idéia de um Grande Prêmio em Mônaco, um Principado que, além de não ter uma só rua suficientemente grande, não é senão uma estreita faixa de terra, caindo abruptamante sobre o mar. Que eles fiquem com o cassino e deixem as corridas para os outros". Não deve ter demorado muito, para a revista ter se arrependido do que disse. Com o passar do anos, Monte Carlo não só virou sinônimo de cassino como também de corrida de carros, sendo esta uma extraordinária divulgação desse minúsculo e charmoso Principado. Mais de 80 anos depois é impossível imaginar o G.P. de Mônaco fora do calendário da F1, principalmente depois dessa edição de 2011, sem dúvida uma das mais sensacionais das últimas décadas.


Vettel e Alonso foram brilhantes, mas a bandeira vermelha no
final da prova favoreceu o alemão. Será que sem
ela o resultado seria diferente ?

A corrida teve todos os ingredientes que a tornam inesquecível : disputas, ultrapassagens, acidentes, polêmicas, excepcionais atuações de meia duzia de grandes pilotos e indecisão até o instante final. O único "porém" que se pode dizer foi a entrada da bandeira vermelha há poucas voltas do final, que privou o público de um final ainda mais espetacular.

Um final que teve pela quinta vez em seis corridas em 2011, Sebastian Vettel como vencedor. O alemão teve mais uma atuação perfeita, mas pelo menos desta vez dois pilotos tiveram atuações iguais e poderiam ter também vencido com todos os méritos : Fernando Alonso e Jenson Button. As circunstâncias acabaram por favorecer o alemão, mas o mundo de qualquer maneira assistiu uma grande exibição desses três pilotos e não é todo dia que no pódium se faz justiça aos melhores. Desta vez, Monte Carlo fez.

A corrida




Com o acidente no treino de sábado, Sergio Perez ficou de repouso no hospital e não participou da corrida. Uma pena. Sem dúvida seria mais uma atração, mas o público nem teve tempo de lamentar a ausência do destemido mexicano. Na largada, Schumacher, que largou em 5º, ficou praticamente parado (video acima) e obrigou Rosberg, que estava imediatamente atrás, a uma manobra impressionante, colocando sua Mercedes entre o guard-rail e o carro de Schumacher, pulando de 7º para o 5º lugar. Hamilton que esperava passar vários adversários na largada depois de sair em 9º, acabou se atrapalhando e foi superado por Petrov. Como passou Schumacher, ficou na mesma, em 9ª lugar, até que aconteceu o  momento que parece ter causado um descontrole no inglês.

Na largada, Vettel manteve a ponta, enquanto
  que Rosberg fez grande manobra evitando
bater na Mercedes de Schumacher

Quando os carros se aproximaram da Loews ( hoje, curva do Hotel ) Schumacher numa manobra ousada colocou sua Mercedes por dentro da curva, surpreendendo Hamilton, que nunca esperava ser atacado naquele ponto. O inglês ficou completamente sem ação, e para justificar a "distração" disse a equipe que estava com problemas nos pneus. Evidentemente, dentro do seu espírito egocêntrico, Hamilton não iria facilmente admitir o erro e para mudar rapidamente essa situação teria que passar o alemão o quanto antes. Fato que não tardaria.



Com a primeira volta completada o líder era Vettel que já abria dos demais. Depois vinham, Button, Alonso que ultrapassou Webber na largada, o australiano, Rosberg, Massa, Maldonado, Petrov, Schumacher, Hamilton e os demais. Durante as 10 primeiras voltas, os pilotos mantiveram essas posições, até que Hamilton ultrapassou Schumacher (video acima) numa manobra excelente na Saint Devote, no único momento feliz do inglês na corrida toda. Os carros da Mercedes, inexplicavelmente, se arrastavam na pista com os pneus já desgastados. Na curva do Tabac, Massa passou Rosberg e logo depois Maldonado fez o mesmo. Não restou outra alternativa para a equipe alemã senão chamar seus pilotos para a 1ª parada, mas a corrida estava irremediavelmente perdida.



Quando parecia que Vettel teria mais uma vitória tranquila, aconteceu o inesperado na 1ª troca de pneus. A Red Bull se atrapalhou e devolveu o alemão para a 2ª colocação, com Button agora liderando, e Alonso em 3º, bem próximo de Vettel. Esses três começaram a abrir dos demais e a briga pela vitória estava restrita agora ao trio. Foi por volta da 30ª volta que a corrida começou a ser decidida tanto lá na frente quanto no pelotão intermediário quando Hamilton começou a apelar. O inglês vinha atrás de Massa numa disputa pela 9ª posição, quando fez a primeira pixotada do dia. Sem saber como passar a Ferrari, resolveu imitar a ultrapassagem que levou de Schumacher e tentou o mesmo com a brasileiro (video acima). Só que ao contrário dele, Massa percebeu a manobra e fez a tangência normal até ser atingido por Hamilton que literalmente atropelou o brasileiro

Massa com a Ferrari destruída depois de bater dentro
do túnel após disputa com Lewis Hamilton

O inglês saiu "empurrando" Massa, danificando o aerofólio da Ferrari. Logo depois, na curva do túnel, Massa sem o apoio aerodinâmico acabou sendo ultrapassado por Hamilton e pior, entrou na parte suja da pista, perdendo o controle do carro e batendo no guard-rail. Foi nesse momento que apareceu a primeira bandeira amarela. Button e Alonso pararam para uma 2ª troca de pneus, enquanto que Vettel não, preferiu manter os pneus macios, o que lhe devolveu a liderança da corrida. Nessa troca a McLaren deu uma bobeada. Estava liderando com Button, que aumentava a cada volta a diferença para Vettel. Parar para que ? Nesse instante, a McLaren começava a perder a corrida. Com a liderança recuperada, a Red Bull passaria a dar as cartas.

Vettel, Alonso e Button protagonizaram um duelo sensacional,
que infelizmente foi interrompido com o surgimento da
bandeira vermelha, após o acidente de Petrov

Hamiltou acabou punido e recebeu um drive-trought enquanto que Button começava a pressionar Vettel. O alemão tinha largado como todo mundo, exceto Hamilton, com pneus "super macios". Na sua 1ª troca, tinha colocado os "macios". Já Button tinha usado dois jogos de "super macios", o que o obrigava a fazer pelo menos mais uma parada para colocar os "macios", como diz o regulamento. Foi o que fez na 47ª volta, cedendo a 2ª posição para Alonso que vinha numa combinação "super macios"-"macios"-"super macios". Enquanto isso na liderança, Vettel deixava claro que não iria parar mais, o que parecia ser uma temeridade. Rapidamente, Alonso se aproximava de Vettel, enquanto que, ao mesmo tempo, Button se aproximava de Alonso. Os três com três táticas diferentes : Vettel com uma parada nos boxes, Alonso com duas e Button com três. Tudo indicava um final de corrida eletrizante até que a bandeira amarela resolveu aparecer novamente...



Na 68ª volta, a dez do final, os três líderes chegavam para dar uma volta em um bolo  de carros formados por  Di Resta, Maldonado, Petrov, Hamilton ( ele mesmo, quase uma volta atrás ), Alguersuari, Buemi e Rosberg. 10 carros juntos não podia dar boa coisa e não deu mesmo... O 1º ato da confusão (video acima) foi que ao levar uma ultrapassagem de Maldonado, Di Resta entrou na parte suja da pista e foi bater no guard-rail na Tabac, furando um pneu. Com o carro descontrolado, Di Resta passou por cima da zebra na primeira chincana do "esse" da piscina, o que obrigou Hamilton a dar uma freada. Alguersuari que vinha atrás não conseguiu parar a tempo e bateu na traseira do McLaren indo de encontro ao guard-rail. Petrov, que vinha colado atrás, também não conseguiu frear e bateu mais forte ainda também no guard-rail. Miraculosamente, os três líderes passaram como se nada tivesse acontecido, mas a corrida ficaria totalmente comprometida.


Petrov é atendido dentro do carro após bater no guard-rail.
Indiretamente este acidente acabou facilitando a vitória
de Vettel que era ameaçado por Alonso e Button

A principío parecia apenas uma questão de retirarem os carros destruídos para ser dada uma nova largada, mas Petrov se machucara na batida o que obrigou a uma ambulância entrar na pista. Foram três voltas em bandeira amarela até que a direção da prova decidiu interrompeu a corrida com uma bandeira vermelha para poder atender o russo com mais precisão. Nesse momento, como diz o regulamento, todos os carros podem ser reparados, o que ajudou Hamilton, que teve o aerofólio danificado no choque com Alguersuari, e também Vettel que pode colocar um novo jogo de pneus. Alonso aproveitou para trocar de pneus e com todos devidamente "calçados" a corrida perdera o ato final do que iria acontecer com os três primeiros disputando a liderança com três estratégias diferentes. Uma pena.


Alonso fez uma corrida extraordinária e poderia ter vencido.
Para o espanhol, a bandeira vermelha favoreceu Vettel, mas
que é impossível afirmar que ele deixou de ganhar por isso

Justo ou não, esse regulamento é muito antigo. Me lembro que no G.P. da França de 1981, Nelson Piquet liderava tranquilamante a corrida com seu Brabham com pneus Goodyear quando há poucas voltas do final um temporal desabou sobre a pista. Bandeira vermelha e só foi dada uma nova largada quando a pista secou. O segundo colocado, Alain Prost, da Renault, tinha pneus Michelin que possuia um tipo de pneu que durava poucas voltas (como era o caso naquele momento) e que a Goodyear não tinha... Conclusão : foi dada uma nova lagada e Piquet ficou para trás, perdendo a liderança não só para Prost, como a 2ª colocação para John Watson, da McLaren, que tinha também pneus Michelin. Injusto a meu ver, mas é um regulamento antigo, e como é raro uma corrida ser interrompida por bandeira vermelha, não é um assunto lá muito discutido.

Button aguarda dentro do carro o reinício da corrida. Assim como
Alonso, o inglês poderia ter perfeitamente ganho a prova e
dos três é o que tinha os pneus em melhor estado


Como trocar os pneus é legal, deveriam dar a prova como encerrada, mas como estamos em Mônaco, talvez achassem que não seria conveniente terminar a corrida atrás do pace-car, então uma nova largada foi autorizada. De fato, nada mudou entre os três primeiros que mantiveram as colocações até a bandeirada final. Mas lá atrás não foi bem assim e não é que Hamilton "aprontou" de novo ? O inglês estava em sétimo, pressionando um excelente Maldonado, quando resolveu usar a tática do "ou deixa passar ou batemos os dois". Maldonado não aliviou e os dois bateram na Saint Devote. O venezuelano levou a pior e acabou destruindo seu Williams no muro de pneus, enquanto que o inglês saiu intacto da manobra "kamikase". Acabou penalizado novamente pelos comissários  só que agora no tempo ( 20 segundos ) porque a corrida estava no fim, o que não mudou a sua posição, já que o 7º colocado estava uma volta atrás. O "crime" compensa...


Depois de uma corrida conturbada, Vettel recebe a bandeirada.
A corrida poderia ter acabado na bandeira vermelha, mas
a direção de prova achou melhor recomeçar o GP.

Fecharam na zona de pontos : Webber, em quarto, que não repetiu a atuação do ano passado, quando venceu a prova. Kobayashi, em 5º, novamente excelente, que só perdeu a 4ª posição no final e que foi, junto com Maldonado,  o melhor piloto da prova, fora os três primeiros. Hamilton, em 6º, e atrás do inglês Sutil, Heidfeld, Barrichello e Buemi. O brasileiro marcando os primeiros pontos para a Williams no ano nem comemorou muito, já que todas as atenções estavam voltadas para Maldonado que estava quatro posições à frente quando foi alijado da prova por Hamilton.

O pódium fez justiça aos três melhores pilotos da corrida.
Com três estratégias diferentes de pneus, no final 
pouco mais de 1 segundo os separavam

No final da corrida, duas polêmicas entraram em discussão : quem seria o vencedor se a corrida não tivesse sido interrompida e o comportamento na pista e fora dela de Lewis Hamilton.

Quanto a primeira questão, tenho a impressão que a Red Bull fez uma aposta. Com uma parada era certo que Vettel seria o líder e que Button e Alonso, com pneus em melhor estado, iriam pressionar o alemão. Mas os austríacos apostaram que eles não estariam tão rápidos para fazê-lo com segurança. Ultrapassagem em Mônaco é sempre um risco, pela liderança então beira o suicídio. Como Alonso e Button não são pilotos de forçaram ultrapassagens, a Red Bull achou que a melhor chance de vencer era fazer mesmo uma parada, já que a McLaren estava rapidíssima. O resto era contar com o talento de Vettel. 


Para a estrátégia da Red Bull dar certo, Vettel não poderia
cometer nenhum erro para poder suportar a pressão
de Alonso e Button. E o alemão foi impecável.

Mas mesmo com os pneus em mal estado, o alemão esteve perfeito como sempre e não cometeu erro algum, não dando a menor chance para que Alonso ou Button tentassem passá-lo. Se a corrida não fosse interrompida, acho que Vettel só deixaria de vencê-la se batesse ou se cometesse um erro que fosse suficientemente grande para que Alonso o superasse. Já o inglês só venceria se os dois batessem. Quando acabou a corrida, Alonso e Button admitiram que tentar passar Vettel seria uma forçação de barra. A Red Bull apostou que tanto o piloto da McLaren com o piloto da Ferrari seriam éticos o suficiente, para não passarem na "marra". Uma aposta mais do que correta.  Mas se o piloto fosse Lewis Hamilton talvez a Red Bull tivesse que rever a sua tática...


A Red Bull sabia que seria díficil para Alonso e Button
passarem Vettel. Mas para isso apostaram que
nenhum dos dois fariam uma manobra
suicída para obter a liderança

Assim que acabou a corrida, o inglês deu uma entrevista acusando os fiscais de pista de o perseguirem "talvez por eu ser preto". Depois chamou Massa e Maldonado de "ridículos e idiotas". Em primeiro lugar, Hamilton se esqueceu que Di Resta foi também punido pelos fiscais, numa tentativa de ultrapassagem  a Alguersuari, idêntica a que ele, Hamilton, fez com Massa, e que aconteceu antes de seu acidente, na mesma curva Loews. Agora, por acaso, Di Resta é negro ? Outra, nunca vi Hamilton engajado em nenhuma campanha contra a discriminação racial, então sua declaração foi completamente oportunista, desnecessária e imprópria. Tanto a tentativa de ultrapassagem sobre Massa como Maldonado foram duas manobras de "intimidação" do inglês, ou seja, quando Hamilton não conseguiu ultrapassar,  resolveu apelar, buscando passar de qualquer maneira, intimando o adversário a deixar passar, para não baterem os dois.


Hamilton gosta de bancar o "coitadinho", mas em toda a sua
carreira na F1 só pilotou McLaren, enquanto que Alonso
começou na Minardi, Vettel na Toro Rosso...

Já faz muito tempo, e nós já postamos aqui no GPW vários comentários  a respeito disso, que Hamilton tem uma postura completamente anti-ética e desrespeitosa em relação aos seus companheiros de profissão. Busca sempre desqualificar Vettel, dizendo que ele só vence por ter um carro muito melhor que o dele. Diz que é o único piloto que pode desafiar o mesmo Vettel este ano, ignorando totalmente Jenson Button, que tem o mesmo carro que ele e frequentemente trata com deboche qualquer piloto que "ouse" impedir uma tentativa de ultrapassagem sua, como Massa e Maldonado (video abaixo) fizeram agora em Mônaco.



Se faz de vítima constantemente e sempre que pode usa esse papinho de discriminação, esquecendo que são poucos os pilotos que tem o privilégio de entrar na F1 pela McLaren, como aconteceu com ele em 2007. É bom lembrar que Fernando Alonso começou na Minardi, Vettel  na Toro Rosso ( e venceu uma corrida lá... ), isso para não falar de Piquet na Ensign, Senna na Toleman, Schumacher na Jordan, e por aí vai...

Hamilton menospreza Vettel, mas o
alemão segue vencendo. Será
que o inglês esquece que Vettel
venceu até com um Toro Rosso ?
Privilégio é o que tem tido Hamilton até agora na F1 já que ele  só pilotou McLaren. É um grande piloto, mas que ainda não está no mesmo nível dos melhores como Alonso e Vettel. Frequentemente Hamilton gosta de se comparar a Senna, talvez na arrogância e na forma agressiva de pilotar ele seja parecido, mas na genialidade está ainda muito longe...

Por fim, uma grande corrida com pelo menos 5 atuações excelentes. Vettel, Alonso e Button estiveram impecáveis e qualquer um deles poderia ter vencido. Já Kobayashi e Maldonado estiveram quase no mesmo nível, se levarmos em conta, evidentemente, que eles não tem um carro a altura.

Após 82 anos de tradição, o G.P. de Mônaco parece mais forte do que nunca. "...que eles fiquem com o cassino e deixem as corridas para os outros" aconselhou a revista Autocar. Certamente hoje, o principado é muito mais conhecido mundialmente pelas corridas de F1 do que pelos cassinos...

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