domingo, 22 de maio de 2011

Vettel suporta pressão de Hamilton e vence na Espanha

Sebastian Vettel conseguiu suportar a enorme pressão
de Lewis Hamilton e ganhou sua quarta corrida
em 2011 em Barcelona

Durante as primeiras 18 voltas do G.P. da Espanha parecia que a F1 estava assistindo uma nova ordem. Fernando Alonso deu uma largada sensacional e pulou da 4ª para a 1ª posição, liderando o pelotão e sendo terrivelmente pressionado pela Red Bull e pela McLaren que não conseguiam, contudo, tomar a liderança do espanhol. Finalmente a Ferrari era o foco das atenções de todos no mundial de F1 de 2011, mas havia algo de estranho no ar. A melhor definição veio do próprio Alonso que falou após a corrida : " Aquela não era a nossa posição ( primeiro ) , não deveríamos estar lá, então o que aconteceu foi que desgastamos muito rápido os pneus macios e ficamos boa parte da corrida com os duros e então...". O "então" do espanhol é que ele acabou em um distante 5º lugar, simplesmente uma volta atrás dos pilotos da Red Bull e da McLaren. O que parecia ser uma corrida dos sonhos para a Ferrari, acabou em desastre.

No pódium a alegria dos dois melhores pilotos da corrida :
Vettel e Hamilton. Já Button  não entra nessa lista
pois fez uma largada vergonhosa

Quem tem todos os motivos para comemorar é Sebastian Vettel que resistiu a pressão de Lewis Hamilton na 2ª metade da prova e venceu sua quarta corrida das cinco que já foram disputadas em 2011. É o mais espetacular início de temporada desde 2004, quando Michael Schumacher venceu as 5 primeiras corridas do ano. Em 2009, Jenson Button venceu também quatro das cinco primeiras, mas em uma delas ( na Malásia ) foi computada apenas a metade dos pontos, já que a corrida foi interrompida bem antes do final devido as fortes chuvas. De qualquer maneira, vencer 4 vezes em 5 no início do Mundial não é algo que aconteça todo dia. Em 62 Mundiais isso ocorreu 15 vezes, sendo que apenas 9 nos últimos 46 anos.

A corrida




Com Mark Webber largando na pole ao lado de Vettel, todos imaginavam uma repetição das disputas do ano passado entre os pilotos da Red Bull para ver quem chegava na primeira curva na liderança. E de fato a disputa ocorreu, só que nenhum dos dois chegou lá primeiro. Webber ficou tão preocupado em se defender de Vettel que se esqueceu de Alonso. Este largando em quarto, deu um "chega pra lá" em Hamilton ( ver video ), e se colocou na parte interna da reta. Ao perceber que Webber deixou um buraco do lado direito se enfiou nele e tomou a ponta de forma brilhante. O australiano, atrapalhado pela própria indecisão, foi obrigado a freiar e perdeu também a 2ª posição para Vettel, caindo para o 3º lugar. Pior que Webber só mesmo Button que da 4ª posição no grid conseguiu terminar a primeira volta em décimo.


Preocupado em se defender de Vettel, Webber perdeu na 
largada não só a liderança para Alonso como
o 2º lugar para o próprio Vettel

Alonso, Vettel, Webber e Hamilton logo começaram a abrir dos demais e ficou claro que a disputa pela vitória ficaria entre eles. Ficou claro também que Alonso estava fazendo um esforço absurdo para segurar a ponta e o espanhol passou a andar num ritmo mais lento, mas que não era suficiente para Vettel conseguir uma ultrapassagem, devido ao eternos problemas aerodinâmicos causados pelo traçado do circuito de Barcelona. Com as primeiras paradas nos boxes na altura da 10ª volta, Hamilton conseguiu superar Webber e subiu para 3º. Alonso continuou na ponta mas por pouco tempo. Pouco mais de 10 voltas depois, Vettel antecipou a parada enquanto que Hamilton retardou-a ao máximo. Já percebendo que Alonso não conseguiria acompanhar Vettel e Hamilton, a Ferrari decidiu que o espanhol deveria "marcar" Webber e repetir o que o australiano fazia. Começou aí o desastre final que faria Alonso terminar a corrida uma volta atrás dos líderes.

Alonso deu a melhor largada do ano pulando de 4º para 1º.
Em compensação Button arruinou qualquer
possibilidade de vitória caindo de 5º para 10º.

Enquanto isso Vettel e Hamilton disparavam na ponta e a disputa pela vitória  se restringiria aos dois. O alemão, sem poder usar a asa móvel por ser o líder e com nítidos problemas no Kers, parecia ser um alvo fácil para o inglês, mas não foi o que aconteceu. Em primeiro lugar, Vettel fez uma corrida impecável sem cometer um único erro, não dando nenhuma oportunidade para Hamilton tentar a ultrapassagem. O segundo fator foi novamente o desastroso traçado de Barcelona, que mesmo possuindo uma das maiores retas da F1 não permite que uma simples ultrapassagem seja feita com segurança. Como o Red Bull era mais rápido na curva anterior a reta dos boxes, Hamilton nunca conseguia chegar perto o suficiente do alemão para buscar o seu vácuo. Quando se aproximava, a reta acabava e foi assim que foram disputadas as últimas 20 voltas. No final, quarta vitória de Vettel no ano, que foi seguido por Hamilton, Button e Webber, os únicos que terminaram na mesma volta do líder, e mais atrás ( bem atrás ) Alonso, Schumacher, Heidfeld, Rosberg, Perez e Kobayashi, fechando a zona dos pontos. 

Hamilton não conseguia se aproximar de Vettel na
reta para tentar a ultrapassagem. Quando
conseguia ( foto ) a reta acabava...

Na coletiva de imprensa após a corrida, Vettel não escondia a satisfação pela vitória mais dura que teve até agora na temporada : “Foi muito difícil e apertado, mas ainda bem que consegui um bom desempenho no último setor nas últimas duas voltas, o suficiente para manter a liderança. O Kers funcionava às vezes, por isso não foi fácil. Lewis dificultou muito a nossa vida. Foi um grande alívio entrar na reta dos boxes e ver a quadriculada. Estamos muito fortes, mas hoje não foi como esperamos. A Ferrari chegou e a McLaren andou muito bem. Quando eles me falaram que faltavam seis voltas para o fim e para eu não usar o Kers, não foi a melhor das mensagens que estava esperando. Eles sabem que isto precisa funcionar no futuro, é absolutamente necessário. É claro que, sem o Kers, não estamos onde queriamos. Mas estou muito feliz, foi um grande resultado."

Das 4 vitórias obtidas por Vettel em
2011, essa na Espanha foi com
certeza a mais difícil.
Se a vitória de Vettel não surpreendeu ninguém, a pressão exercida por Hamilton em cima do alemão, sim. Mesmo porque o próprio inglês se considerava carta fora do baralho no sábado, após ficar quase 1 segundo atrás da Red Bull nos treinos : “Nós largamos bem e pudemos pressionar a Red Bull pois Alonso estava os segurando. Acho que isso acabou nos favorecendo, porque não sei se conseguiríamos acompanhar o ritmo das Red Bull. Conforme a corrida foi passando, nós tivemos uma ótima performance, mas foi muito difícil passar Sebastian no final. Eles estavam muito rápidos nas curvas de alta velocidade e os níveis de downforce deles na última curva estavam incríveis. Mas o segundo lugar foi muito bom. Nós fizemos um bom trabalho se considerarmos que o carro deles é mais rápido que o nosso. Melhoramos o ritmo de corrida desde a última prova, então o saldo é positivo. Eu não conseguia seguir Vettel depois da curva 3, de alta, então na curva 9 e na última, eu não podia me aproximar o suficiente para manter a distância para usar a asa móvel. Mas eu estou muito feliz com o trabalho feito já que pressionamos a Red Bull considerando todas as circunstâncias”.

Hamilton junto com Vettel foram os dois grandes pilotos da prova, mas é ainda curioso como o inglês tenta diminuir os feitos do alemão. Há um tempo atrás disse que seu maior rival é Alonso, se comparou a Senna, enquanto que o espanhol seria Prost. Já para o inglês, Vettel seria Mansell, ou seja, um piloto que só está entre os melhores por ter um carro superior. Será que ela ainda pensa assim ? Em primeiro lugar, Hamilton esqueceu que Vettel teve problemas com o Kers e deixou de usá-lo em boa parte da corrida, e depois, o mais importante,  Mansell dificilmente conseguiria suportar uma pressão como a que Vettel suportou de Hamilton durante uma metade inteira de corrida sem cometer erro algum. O inglês sempre fraquejava nesses momentos. Já Vettel esteve impecável. Hamilton deveria rever seus conceitos, ou então, está dizendo isso para tentar desestabilizar o alemão. Mas se a tática for esta, o efeito está sendo o contrário...

Hamilton comparou Vettel a Nigel Mansell tentando
diminuir os feitos do alemão. Mas será que
Mansell resistiria a pressão que Vettel
sofreu de Hamilton em Barcelona ?

Uma prova que a Red Bull não esteve superior a McLaren em Barcelona é que ao lado de Vettel e Hamilton no pódium estava Button e não Webber. O inglês depois de uma largada desastrada, mudou a tática e partiu para 3 paradas nos boxes o que permitiu que chegasse 12 segundos a frente do australiano. O que não dá para entender é a imprensa de uma forma geral colocar Button nessa corrida no mesmo nível de Vettel e Hamilton, os melhores. Sua largada não pode ser tirada do contexto já que tirou qualquer possibilidade dele lutar pela vitória. Um erro que Button tem cometido com uma certa frequência. Depois, sim, fez uma corrida perfeita, bem ao seu estilo, limpa e sem erros : "A primeira volta foi um desastre.  Fiz uma largada muito ruim e seis carros  me passaram. Foi uma primeira volta frustrante, e inicialmente, não consegui passar os carros da frente. Depois alcançamos a velocidade, e o ritmo foi bom. Foi uma corrida divertida depois da primeira volta e é ótimo chegar ao pódio, mas seria mais interessante ver o que poderia ter acontecido se eu não tivesse problemas na largada. Para mim, fazer três paradas foi realmente mais fácil, e isso funcionou muito bem no final”.

No pódium, os três primeiros colocados comemoram em grande
estilo. A festa, aliás, está apenas começando, já que todos
estão de malas prontas para Mônaco...

Para quem largou na pole, chegar em 4º não era exatamente o que sonhava Mark Webber. Mas o australiano não contribuiu em nada para melhorar essa colocação. Preocupado em fechar Vettel na largada, acabou perdendo a liderança para Alonso e depois foi "marcado" pelo espanhol, ficando preso atrás da Ferrari boa parte da corrida. No final chegou 47 segundos atrás do vencedor e companheiro de equipe, Sebastian Vettel, uma eternidade. Mesmo assim, Webber  se defendeu das críticas : "Eu não acho que minha largada foi ruim, mas a de Alonso é que foi fenomenal. Depois foi como um jogo de xadrez, os pilotos estavam marcando as paradas um dos outros, e eu não tive muita corrida na pista. Fiquei frustrado com Alonso ter parado todas as vezes que eu parei. Em alguns momentos, eu fui rápido e em outros, não. E assim foi”.


Nick Heidfeld, da Renault Lotus, foi o piloto mais
combativo da corrida : largou em último
e chegou em oitavo

Sensação do início da corrida quando liderou as 18 primeiras voltas, Fernando Alonso terminou numa frustrante 5ª colocação à uma volta dos quatro primeiros. O que determinou um resultado tão antagônico ? A resposta pode estar no que aconteceu depois da largada. Ao ultrapassar Hamilton, Vettel e Webber, de forma espetacular, o espanhol se viu inesperadamente na liderança. Parecia evidente, contudo, que Alonso fazia um tremendo esforço para segurar a ponta e então ele tomou uma decisão : se iria privilegiar o resultado final ou o espetáculo. Provavelmente, por correr em casa e perceber o delírio do público por ver um espanhol liderando uma corrida na Espanha, Alonso optou pela segunda opção. E pagou caro por isso...

Entre o resultado e o espetáculo, Fernando Alonso optou por
este último. Resumo da ópera : liderou 18 voltas, mas
terminou em 5º, uma volta atrás do vencedor

Ao se manter na ponta durante muito tempo com os pneus moles, o espanhol teve que abreviar a parada para usar os duros, mas como a Ferrari não se adaptou a esse tipo de pneus, o que se viu foi o carro de Maranello se arrastando no final. Alonso reconheceu o risco tomado : "A melhor parte da corrida foi sem dúvida a largada, trabalhamos muito nesta área e fomos recompensados. Foi fantástico ver a torcida vibrando nas arquibancadas e tentei fazer o máximo, mantendo os pilotos mais rápidos atrás de mim por 20 voltas, mas depois não havia mais nada a fazer. Foi muito estressante, tentamos ao máximo copiar ou antecipar o que eles faziam. Então passei a metade da corrida com pneus duros, o que nos puniu fortemente e tornou a diferença maior do que é na realidade. De qualquer forma precisamos de mais pressão aerodinâmica e analisar por que, em duas semanas, perdemos terreno para Red Bull e McLaren". Embora o resultado final tenha sido ruim, é lamentável que o espanhol não tem um carro a altura do seu talento, dá pra imaginar o que ele faria se tivesse exatamente um Red Bull ou um McLaren nas mãos ?

Schumacher teve em Barcelona sua melhor atuação e
colocação do ano, terminando em 6º lugar, uma
posição a frente de seu companheiro na
Mercedes, Nico Rosberg

As Mercedes terminaram em 6º e 7ª lugares com Schumacher a frente de Rosberg. O Heptacampeão do mundo estava satisfeito com o seu desempenho e creditou o seu melhor resultado no ano a ter poupado um jogo de pneus macios no Q3 de sábado. De qualquer forma a equipe alemã não escondia a insatisfação de ter ficado uma volta atrás das Red Bull e das McLaren.

Atrás das Mercedes chegou Nick Heidfeld, da Renault, que foi o piloto mais combativo da corrida. O alemão largou em último e mantendo um bom ritmo a corrida toda conseguiu terminar em 8º, lamentando apenas que a prova não tivesse mais voltas, senão provavelmente teria também ultrapassado as Mercedes. Fechando a zona de pontos em 9ª e 10ª chegaram Sergio Perez e Kamui Kobayashi, da Sauber,  que formam uma das duplas mais interessantes da temporada. Para o mexicano foram os primeiros pontos ganhos na sua carreira, já que na Austrália ele chegou em 7º mas acabou desclassificado.
Kobayashi chegou em 10º com sua Sauber Ferrari. É a
quarta vez em cinco corridas que o intrépido
japonês termina na zona de pontos em 2011

Ao todo uma corrida que acabou não sendo do mesmo nível das demais do ano. Tanto a disputa das primeiras voltas entre Alonso, Vettel, Webber e Hamilton como a disputa final entre Vettel e Hamilton terminaram sem nenhuma ultrapassagem. O Kers, as asas móveis e os pneus de pouca durabilidade da Pirelli desta vez acabaram derrotados pelo eterno traçado sem qualquer atrativo da pista catalã. Não tinha falado, no post passado, que voltar a Montjuich não seria má idéia ?

Nenhum comentário: