sábado, 15 de dezembro de 2007

A volta dos Gauleses

Fernando Alonso e Flávio Briatore estão juntos de novo depois de apenas um ano de separação. Renault volta com força total para 2008.

Coluna Volta Final
( Otto Jenkel )

Acabou. Depois de tantas especulações, Fernando Alonso acabou tomando a decisão mais provável e a menos arriscada : voltar à Renault, equipe em que foi bicampeão mundial em 2005/2006. O veredicto do espanhol acabou decepcionando algumas pessoas que esperavam uma decisão mais ousada. Pode ser. Mas não resta dúvida, que colocada as opções na mesa, o retorno à equipe francesa seria a opção mais viável. Algumas dessas aliás beiravam ao absurdo.

Duas foram muito cogitadas : ter um ano sabático, ou seja, retirar-se por um ano, e voltar numa equipe mais forte, leia-se Ferrari, em 2009. Em primeiro lugar, se ausentar durante um certo período é sempre um risco. O piloto perde o contato com as inovações técnicas e, além disso, tem um perda de habilidade motora e física, que só a disputa de corridas regulares pode suprir. Muitos falam que Alain Prost se retirou em 1992, para retornar à F1 pela Williams no ano seguinte e ser o campeão, seria um bom exemplo. Nada mais falso. A equipe inglesa era muito superior as demais na época, mas ficou evidente que mesmo sendo campeão, o francês já não era o mesmo piloto. Tanto que embora ele tenha se retirado definitivamente no final de 1993 com o título e 7 vitórias, todas as glórias ficaram para Ayrton Senna, que conseguiu inacreditáveis 5 vitórias com um McLaren nitidamente inferior, no que é considerado o maior vice-campeonato da história.

Tão absurda como essa hipótese foi a que surgiu na última semana, quando colocaram Alonso de volta à McLaren. O motivo : os dois principais patrocinadores da equipe de Wöking - Vodafone e Santander - serem espanhóis e não terem engolido o seu compatriota ser alijado da equipe. É provável eles não terem gostado. Certo até. Mas depois de tudo que aconteceu esse ano não haveria a menor hipótese de uma reconciliação entre Alonso e a cúpula da McLaren qualquer que fosse o patrocinador.

As outras possibilidades para o espanhol envolviam uma boa dose de risco. Desembarcar na Red Bull, Honda, Toyota ou BMW. Não se sabe até que ponto houve interesse de uma dessas equipes em ter os serviços do espanhol em 2008, talvez nunca se saiba. Mas é certo que houve um affair entre alguma(s) e Alonso. Não é todo ano que um piloto do quilate do espanhol fica dando sopa no final de uma temporada. No final de 1983, Alain Prost foi despedido da Renault, e Ron Dennis não pensou duas vezes em manda embora John Watson e colocar o francês em seu lugar para fazer conpanhia a Niki Lauda, no que seria uma das maiores duplas da história da F1.Começava então uma Era de ouro para a equipe inglesa.

Mas os tempos são outros. Das opções fora Renault, todas seriam mais ou menos arriscadas. Talvez a mais interessante fosse a da BMW, que surgiu como a terceira força da temporada de 2007. No entanto, existe uma política nacionalista dentro da equipe que favorece os pilotos alemães ( como Heidfeld e Vettel ) ou com histórico no automobilismo germânico ( que é o caso de Kubica ) . Talvez nunca tenha existido sequer uma proposta para o espanhol vindo dos alemães. Seria a melhor proposta, se ela tivesse acontecido.

As outras hipóteses envolviam um processo de recuperação de equipes que perderam o bonde da história como Toyota e Honda, e outra que ainda precisa se firmar como uma equipe de fato de F1, como é o caso da Red Bull, que parece ainda se preocupar mais em festas e eventos do que em resultados em pista. O risco para o espanhol seria altíssimo se a decisão caísse em qualquer dessas equipes. A Renault seria a decisão natural, como acabou sendo.

A pergunta que fica agora é : será que Alonso é candidato ao título em 2008 ? Numa primeira análise, não. A equipe francesa não ganhou sequer uma corrida este ano, e pior do que isso, ficou em um patamar muitíssimo inferior tanto à Ferrari quanto à Mclaren. Mas voltemos à 2005. Alguém poderia imaginar no início daquela temporada que a Renault seria a campeã ? Ela venceu uma única corrida em 2004, no sempre imprevisível G.P. de Mônaco, quando Jarno Trulli fez a corrida de sua vida. No resto, foi engolido pela Ferrari que ganhou 15 dos 18 GPs da temporada. Em poucos meses de intervalo de um ano para o outro, tudo mudou. Nem sempre a história se repete e a tarefa do espanhol não será nada fácil, mas seria prematuro descartá-lo como um aspirante ao título.

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O sobrenome Piquet volta à F-1 depois de 17 anos de ausência. Nélson Ângelo Piquet foi confirmado como piloto da Renault para a temporada de 2008 desbancando Giancarlo Fisichella e Heikki Kovalainen, os outros postulantes a vaga. Nelsinho se tornou o primeiro piloto brasileiro a correr na equipe francesa na história da F1 e o terceiro que representará o país no Mundial que se inicia em março, com o G.P. da Austrália.

Mal a notícia foi divulgada a mídia brasileira já bombardeou o público com duas afirmações completamente distintas. A primeira é a de que Nelsinho não terá a menor chance na Renault tendo Alonso como companheiro de equipe. E a outra diz o contrário, que ele pode se tornar uma nova pedra no sapato do espanhol como foi Lewis Hamilton na McLaren. Qual será o peso dessas duas afirmações ? Esse será o tema da próxima coluna.

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Depois de um ano terrível em que a melhor colocação foi um 2º lugar conseguido, por acaso, no conturbado G.P. do Canadá, com Kovalainen, a Renault teve essa semana o seu melhor momento de toda a temporada. Flávio Briatore ao anunciar a volta de Fernando Alonso à equipe francesa e a contratação de Nelsinho Piquet como companheiro do espanhol, voltou aos holofotes, um lugar que ele sempre gostou de estar. Em uma só cartada, ele juntou a experiência de um bicampeão do mundo com a juventude de uma futura promessa. Uma tacada de mestre. A Renault de mera coadjuvante em 2007, passa a ter uma das duplas mais interessantes para a próxima temporada. Os gauleses estão de volta.

terça-feira, 11 de dezembro de 2007

O bom filho à casa torna


Depois de tanta especulação, Fernando Alonso acaba tomando a decisão mais provável e a menos arriscada, voltar à Renault, equipe em que o espanhol foi bicampeão mundial em 2005 / 2006. Em breve, a cobertura completa sobre essa decisão e como ela praticamente liquidou o mercado de pilotos para 2008.

sábado, 1 de dezembro de 2007

No centro do Universo


Egocentrismo de Alonso está muito alimentado nesse final de temporada

Coluna Volta Final
( Otto Jenkel )

Nesse fim de ano, todas as atenções poderiam estar sobre Kimi Raikkonen, que ganhou merecidamente, diga-se de passagem, o Mundial de F1 de 2007 estabelecendo a maior reação da história. Ou mesmo sobre Lewis Hamilton, que foi a grande sensação do ano, apesar dos erros infantis no fim da temporada que o fizeram perder o campeonato mais ganho já visto. Mas não. Nem um, nem outro. Todos os holofotes estão sobre o bicampeão mundial Fernando Alonso, que, sozinho, trava praticamente todo o mercado de pilotos para 2008. E isso não é exagero.

Das 11 equipes que participarão do Mundial do ano que vem, apenas duas, Ferrari e Williams, declararam definitivamente a sua dupla de pilotos para a próxima temporada, que são, respectivamente, Kimi Raikkonen/Felipe Massa e Nico Rosberg/Kazuki Nakajima. Todas as outras estão, direta ou indiretamente, esperando a decisão do espanhol. Queiram ou não, o homem está podendo, e seus inúmeros detratores, que não são poucos, devem estar em polvorosa.

Arrogante, mimado, mal-caráter, egocêntrico, são alguns dos adjetivos utilizados para definir a personalidade desse espanhol. Se essas definições são verdadeiras não cabe aqui discutir, mas a última deve estar incomodando demais esses detratores: egocêntrico. Se ele o é, deve estar se sentindo no centro do Universo e não é à toa. Qualquer mudança de peça do espanhol mexe com todo o tabuleiro do mercado de pilotos. Vamos a ele.

Das nove equipes indefinidas, em cinco Alonso pode desembarcar: Renault, Red Bull, Honda, BMW e Toyota. As outras quatro podem ser modificadas com essa decisão: McLaren, Toro Rosso, Super Aguri e a Force India (ex-Spyker). A cada semana surgem boatos jogando o espanhol de um lado para o outro. Se, há um mês, a Renault era favorita, passadas essas semanas este favoritismo já passou para a Red Bull, voltou para a Renault, e depois passou rapidamente até surpreendente Honda, que aparentemente corria por fora. Hoje, Renault e Red Bull, nessa ordem, encabeçam a lista. Essa onde de boatos deixou o mercado agitado, todos esperando a palavra final de Alonso.

Comecemos pela Renault. Heikki Kovalainen, Giancarlo Fisichella e Nélson Ângelo Piquet, dependem da definição do espanhol. O finlandês pode parar na McLaren, o que seria uma troca de pilotos com Alonso indo para a Renault. Piquet parece ter a equipe francesa como única opção, já que a Williams, o outro possível destino do brasileiro, definiu sua dupla. Vira piloto titular ou continua como piloto de testes. Fisichella corre o risco de pendurar o capacete. Não seria má a idéia. Flávio Briatore parece ter chegado no limite da paciência com o italiano.

A Red Bull, caso seja o novo endereço de Alonso, se livraria de David Coulthard, que seria transferido, ou rebaixado, melhor dizendo, para a irmã menor, a Toro Rosso, que teria que deixar o francês Sebastien Bourdais na mão. Mark Webber está garantido na Red Bull, assim como Sebastian Vettel na Toro. O mesmo caso aconteceria com a Honda com a chegada do espanhol: manteria Jenson Button e rebaixaria Rubens Barrichello para a Super Aguri para fazer dupla com Takuma Sato. O inglês Anthony Davidson ficaria de stand by.

Em stand by ficariam também Robert Kubica, da BMW, e Jarno Trulli, da Toyota, caso o "Príncipe (ou sapo, como queiram) das Astúrias" aterrisasse por essa bandas. Garantido apenas Nick Heildfeld na equipe alemã e Timo Glock na japonesa. Até a nanica estreante Force India se envolve nesse imbróglio todo, e curiosamente com a gigante McLaren. Enquanto Lewis Hamilton reina absoluto na equipe de Wöking como principal piloto, o alemão Adrian Sutil da Force, um dos candidatos à vaga na McLaren, pode não se tranferir para a equipe inglesa caso esta acerte com Kovalainen, que estaria de saída da Renault, por causa de... Alonso.


Pronto. Demos um giro rápido no mercado de pilotos, qualquer movimento de peça do espanhol altera todo o tabuleiro. Essa coluna já falou semana passada dos possíveis destinos de Alonso. Agora, do mercado em geral nas mãos de um só homem. Essa história já está se arrastando demais. O egocentrismo do espanhol parece mais do que justificado, para a tristeza dos detratores. Não se fala de outra coisa. Nem poderia.