sexta-feira, 20 de maio de 2011

Análise : Alonso na Ferrari até 2016 e os contratos "vitalícios"

Ao renovar o contrato com a Ferrari até
2016, Alonso fechou as portas para
qualquer outro grande Ás da F1 chegar
em Maranello nos próximos 5 anos.

A Ferrari anunciou ontem que Fernando Alonso assinou com a equipe de Maranello até o final da temporada de 2016, quando o piloto espanhol irá pendurar o capacete. A renovação em si não surpreendeu ninguém, mas o prazo longo demais - 6 anos - sim. Nada contra Alonso, mesmo porque isso está longe de ser um privilégio do espanhol, mas agora já é público e notório que não teremos um outro grande Ás na Ferrari ao lado do espanhol pelo menos até o início de 2017. Como quem vai dar as cartas é Alonso, evidentemente que ele não vai aceitar, passivamente, a entrada de um piloto que possa ameaçá-lo. Então quando Sebastian Vettel revelou um tempo atrás que seu sonho é um dia pilotar para a Ferrari, isso só vai ser possível  em 2017, fato. Não existe a menor possibilidade disso acontecer com o espanhol lá.

Esse provável veto de Alonso não tem nada demais. Quando o piloto se impõe dentro de uma equipe ele tem todas as armas para fazê-lo. Primeiro o piloto tem que mostrar que é muito melhor que seu companheiro de equipe. Foi o que fez Alonso em relação a Felipe Massa. Querem outros exemplos ? Só para ficar com pilotos brasileiros : foi assim com Nelson Piquet em relação a Riccardo Patrese na Brabham, Ayrton Senna com Gerhard Berger na McLaren e Michael Schumacher com Rubens Barrichello na Ferrari. Por ser muito melhores, eles tem privilégios, evidente. Daí a ter posição de veto é um passo, e temos também inúmeros exemplos : Senna vetou Derek Warwick na Lotus, Alain Prost vetou Senna na Williams e por aí vai. O problema atual é o quadro que está se desenhando para os próximos anos e nesse caso a questão é outra.


Vettel, assim como Alonso na Ferrari, é absoluto dentro de
sua equipe, a Red Bull. Uma realidade que
não deve mudar tão cedo

Assim como o espanhol, Vettel também está absoluto na Red Bull e não vai querer um piloto do seu calibre ( hoje, só tem Alonso ) dividindo as atenções com ele na equipe. O alemão não tem porque mudar de ares a longo prazo ( mesmo porque iria para aonde ? ), então sabemos que ele ficará ainda muito tempo na Red Bull. Já a McLaren renovou o contrato com Jenson Button para pelo menos os próximos 3 anos, e o inglês já confessou que depois irá se aposentar. Seu companheiro na equipe, Lewis Hamilton, também deve renovar a longo prazo por absoluta falta de opções. Resumo da ópera : nos próximos cinco, seis anos, nenhuma das grandes equipes terá uma mudança significativa em seus quadros. O que para a F1 é péssimo.

A única possibilidade é ainda a Mercedes, só que a equipe alemã ainda não está no mesmo nível das "três grandes". Pode ser um aposta para o futuro, mas ninguém sabe. Nico Rosberg é muito bom piloto e a equipe está satisfeita com ele. Agora se o alemão um dia vai ser páreo para Vettel ou Alonso isso só o tempo irá dizer. De qualquer forma é ruim para a F-1 saber com antecedência que nos próximos anos não teremos renovações entre as equipes "de ponta" : a Red Bull e a  Ferrari pela imposição natural de Vettel e Alonso e a McLaren por ter se tornado uma equipe 100% inglesa com Hamilton e Button, sem a menor perspectiva de ser diferente tão cedo.

Campeão do mundo em 1979, Jody Scheckter
abandonou a F1 em 1980 com apenas 30
anos. O motivo ? O risco, naturalmente.
Outra questão é a duração dos contratos. Esses muito longos são uma prática relativamente recente. Até 25 anos atrás, nenhum piloto gostava de ficar preso a uma equipe durante muito tempo. Isso acontecia por várias razões. Em primeiro lugar nenhuma equipe dominava a F1 durante muitos anos seguidos, fato que só começou a acontecer em meados dos anos 80 com a McLaren. Outra mais impressionante : ninguém queria ficar muito tempo na F1 por causa do perigo que era dirigir naqueles tempos. Um piloto ter uma carreira de 10 anos na F1 nos anos 50, 60 e 70, e não sofrer nenhum acidente grave, era uma exceção e não a regra. Tivemos vários casos de pilotos que já eram campeões e resolveram se retirar das pistas relativamente cedo por receio de acidentes como foi o caso de Mike Hawthorn, Jackie Stewart, James Hunt, Jody Scheckter e Alan Jones. Hoje, com a segurança que vivemos, ninguém mais pensa nessa hipótese, o negócio é aproveitar o máximo e vencer o maior número de corridas possíveis, já que um acidente grave é uma probabilidade cada vez mais remota.

Os números provam isso. Dos 15 pilotos que disputaram mais de 177 GPs na F1, todos correram dos meados dos anos 80 para cá, quando a segurança melhorou muito. Da mesma forma, os quatro maiores vencedores de todos os tempos também são dessa época e Alonso está muito próximo de ser o quinto. O espanhol está com 26 vitórias, uma a menos que Stewart.

Mesmo novamente campeão em 1973, Jackie Stewart estava
inclinado a ficar mais um ano na F1. Mas a morte de seu
amigo e companheiro de equipe na Tyrrell, François
Cevert, obrigou o escocês a se retirar.

Contratos nos dias atuais são assinados a longo prazo, sem receio que um acidente poderá por tudo a perder, numa espécie de acordo vitalício que só terminará quando o piloto se aposentar ou estiver perto disso. A consequência é que fica cada vez mais difícil aparecer nos próximos anos um novo Ás que ameace esse "status quo", já que as portas das grandes equipes estão fechadas sabe Deus até quando. De certa forma , é o preço que será pago pela segurança máxima e do "risco zero" adotado pela FIA desde maio de 1994.

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