quinta-feira, 16 de junho de 2011

G.P. do Canadá de 2011 : a corrida mais longa da história ?

Juan Manuel Fangio, da Mercedes, lidera o pelotão no
G.P. da Alemanha de 1954. O argentino venceria 
depois de 3 horas e 45 minutos de disputa de
verdade na pista, sem qualquer paralização, 
na corrida de F1 mais longa até hoje
 
Assim que acabou o G.P. do Canadá, a FIA divulgou uma informação de que a corrida disputada em Montreal foi a mais longa da história da F1 com 4 horas e 4 minutos de duração. Imediatamente a notícia se espalhou pelo mundo e diversos meios de comunicação a divulgaram sem a menor contestação. Só gostaria de entender o seguinte : como pode essa corrida ter sido a mais longa se em duas dessas quatro horas não houve corrida nenhuma...

Quando a prova foi interrompida na 24ª volta tínhamos pouco mais de 40 minutos de prova. Durante duas horas todos aguardavam a chuva diminuir e quando isso aconteceu tivemos mais uma hora e vinte minutos de corrida, o que totalizou duas horas, tempo máximo de uma prova de F1 como diz o próprio regulamento da FIA e que, coincidentemente, terminou nas 70 voltas programadas. Ou seja, de corrida na pista tivemos 2 horas, mas a FIA considerou também as duas horas de espera quando os pilotos estavam fora de seus carros, passeando pelo boxes. Dá pra entender ?

Lorenzo Bandini se prepara para a
largada do G.P. de Mônaco de
1967 : sua morte estabeleceria
o tempo limite de 2 horas
 para uma corrida de F1
O mais curioso é que "a corrida mais longa da história" foi na verdade uma das  mais curtas, já que em 33 das 70 voltas, quase a metade, os carros ficaram atrás do pace-car. Então corrida mesmo, "na vera", com os carros disputando posições, tivemos, no máximo, 50 minutos...

Só que antigamente era bem diferente, não havia pace-car e até os anos 60 as provas eram muito mais longas. Não se questionava o tempo ideal de uma corrida de F1 até que o italiano Lorenzo Bandini morreu no G.P. de Mônaco de 1967. O acidente foi atribuido ao cansaço do piloto, que cometeu um erro na entrada do porto provavelmente por esgotamento físico, depois de mais de 2 horas de corrida. Imediatamente foi estipulado que em Mônaco as corridas não passariam mais de duas horas, e aos poucos as outras pistas foram estabelecendo o mesmo limite até que em 1973 virou regra  : nenhuma prova de F1 poderia mais passar de 2 horas.

Os recordes de duração das corridas estão todos na década de 50 quando tivemos 24 GPs com mais de 3 horas de prova, sem qualquer interrupção. O recorde é do G.P. da Alemanha de 1954, em Nürburgring, que durou inacreditáveis 3 horas e 45 minutos e que foi vencida pelo argentino Juan Manuel Fangio, da Mercedes. No entanto se considerarmos Indianápolis, o recorde passa a ser da etapa de 1951 que teve a duração de 3 horas e 57 minutos. A questão de Indianápolis é que muitos entendem que a prova americana nada tinha a ver com a F1. Os pilotos e carros eram outros, e a corrida só estava no calendário entre 1950 e 1960 para tornar a categoria mais internacional, já que até então as provas eram todas na europa com exceção do G.P. da Argentina.  
 

Sebastian Vettel passeia pelos boxes durante a
paralização de 2 horas do G.P. do Canadá.
Para a FIA isso é uma corrida de F1...

De qualquer forma considerar o G.P. do Canadá de 2011 a corrida mais longa da história, sendo que em boa parte dela nem corrida teve, é uma vergonha, principalmente se lembrarmos que nos GPs dos anos 50 os pilotos, além de correrem mais de 3 horas de verdade, o faziam em pistas impraticáveis, em carros sem nenhuma proteção, sem cintos de segurança, onde os pilotos torciam para não quebrar o pescoço quando eram atirados para fora do  carro. A FIA pode dizer o contrário, mas os verdadeiros recordistas são eles. 

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