segunda-feira, 11 de julho de 2011

Alonso e Ferrari derrotam Vettel e Red Bull na Inglaterra

Ao vencer em Silverstone, Alonso igualou o número de
triunfos de Jackie Stewart ( 27 ) o que o coloca como
o 5º maior vencedor da história da F1

Fernando Alonso conseguiu finalmente o seu primeiro triunfo na temporada de 2011 ao vencer o  G.P. da Inglaterra ontem em Silverstone. Se a vitória do espanhol não pode ser considerada uma surpresa, já que poderia ter ocorrido em Mônaco ou em Montreal, a facilidade em que ela foi obtida sim. Alonso cruzou a linha de chegada com 16 segundos de vantagem sobre Sebastian Vettel, uma diferença somente inferior em 2011 daquela que o alemão obteve na corrida de abertura do Mundial, na Austrália, quando venceu com 22 segundos à frente de Lewis Hamilton. Imediatamente uma dúvida pairou no ar : será que essa vantagem foi obtida devido a evolução ocorrida no carro da Ferrari ou a restrição dos escapamentos aerodinâmicos que prejudicou sobretudo a Red Bull ?

Martin Whitmarsh e Stefano Domenicali confabulam antes
do G.P. da Inglaterra. McLaren e Ferrari foram os maiores
incentivadores da proibição dos escapamentos
aerodinâmicos. Como não obteve bons
resultados, a McLaren resolveu cair fora...


Se essa pergunta fosse feita imediatamente após a corrida, a resposta seria : jamais saberemos. O motivo é que até aquele momento prevalecia a proibição desses escapamentos. Quando a FIA determinou na sexta feira que a mudança do regulamento só seria revogada se houvesse consenso de todas as equipes, ninguém tinha dúvidas que essa proibição seria mantida, já que algumas dessas equipes pareciam levar vantagem com a nova medida. Tanto é verdade que um pouco antes da corrida a Ferrari e a Sauber confirmaram que não aceitariam a volta do regulamento antigo. Se a equipe italiana continuasse suplantando a Red Bull nos próximos GPs, ficaria sempre a suspeita de que isso só aconteceu devido a manobra da FIA de proibir os escapamentos aerodinâmicos.

Para a Ferrari um dia perfeito. A vitória de Alonso
aconteceu exatamente no mesmo GP e no mesmo
circuito em que a equipe italiana tinha obtido
há 60 anos a sua 1ª vitória na F1

Isso talvez explique o inesperado recuo da Ferrari e da Sauber que voltaram atrás e aceitaram o retorno, já para o G.P. da Alemanha,  da utilização completa desses escapamentos, apenas horas depois de dizer o contrário. A Ferrari comentou ironicamente que aceitou a medida para não parecer diferente e que "muitas outras equipes não fariam o mesmo...". Mas, será que é isso mesmo ? Acho que a FIA teve a percepção, um tanto tardia, que fez besteira ao mudar o regulamento no meio do Mundial. Como a repercursão foi péssima, e o comentário geral foi que a entidade só fez isso para prejudicar a Red Bull e adiar a decisão do campeonato, a FIA jogou a responsabilidade para as equipes, dizendo que se isso fosse aceito de forma unânime tudo voltaria a ser como antes.


A vitória de Alonso não chegou a ser tão surpreendente.
Surpresa mesmo foi a facilidade em que ela foi obtida.
Para a Ferrari o principal motivo foram os avanços
feitos no desenvolvimento do carro, uma
resposta que só teremos em Nürburgring

Só que a jogada da FIA saiu pela culatra. Em primeiro lugar a entidade deveria ter feito o contrário, sugerindo inicialmente a proibição dos escapamentos aerodinâmicos, mas que isso só seria aceito com uma decisão unânime das equipes. Mas a FIA não o fez porque não lhe interessava, já que o objetivo era atingir a Red Bull e a proposta seria evidentemente negada pela própria. A solução então foi inverter a situação : impor a proibição e só modificá-la se houvesse unanimidade. Com isso a FIA teve a certeza de que pelo menos a Ferrari e a McLaren, a quem mais interessava a proibição, vetariam a volta do regulamento antigo.


Com a proibição dos escapamentos aerodinâmicos a FIA
esperava atingir a Red Bull. Mas a vitória fácil demais
da Ferrari em Silverstone pode ter mostrado que o
"remédio" pode ter sido exagerado
demais. E a FIA recuou...


Mas o que não estava no "script" foi a vitória fácil demais da equipe italiana no G.P. da Inglaterra. Numa "canetada" a FIA pode ter mudado completamente o rumo do Mundial de 2011. Se antes a gritaria contra a FIA era geral, agora ia ser com certeza pior ainda.  Embora jamais saibamos, deve ter havido uma conversa, logo após a corrida, entre  a cúpula da Ferrari e a FIA, que mostrou que a situação ficou insustentável. Provavelmente a FIA alertou a equipe de Maranello que se eles não recuassem da decisão, a entidade iria tomar uma medida extrema de voltar o regulamento antigo. Assim, sem alternativas, a Ferrari recuou...

Na verdade ninguém sabe ao certo o que levou a Ferrari a melhorar tanto a sua performance em Silverstone, talvez nem a própria Ferrari. Caso a equipe italiana tenha mais um desempenho excelente na próxima etapa, em Nürburgring, caberá a Ferrari todas as glórias, merecidamente. Por tudo isso, o G.P. da Alemanha vai ser a prova mais aguardada dos últimos tempos.

A corrida



Independente de todas as trapalhadas da FIA com a restrição dos escapamentos aerodinâmicos, tivemos um G.P. da Inglaterra bastante interessante no local que mais interessa : na pista. Choveu bastante antes da corrida e a pista ainda molhada obrigou os pilotos a sairem com os pneus intermediários. Na largada Vettel superou Webber e tomou a ponta sendo seguido pelo australiano, Alonso, Button, Massa e Hamilton. O inglês roubou todas as atenções no início da corrida. Depois da largar em 10º, já passou em 6º na 1ª volta. Não demorou muito para ultrapassar seu companheiro de equipe, Button, e pular para 5º. Não satisfeito partiu para cima de Massa e por duas vezes exagerou, saindo da pista e só não batendo devido as enormes áreas de escape da pista de Silverstone. Hamilton só passou Massa nos boxes na 1ª parada para as trocas dos pneus e logo depois, usando a ása móvel, superou Alonso com facilidade pulando para o 3º lugar na 15ª volta, atrás apenas das Red Bull. Até esse momento da corrida o inglês era o melhor.


Vettel assumiu a liderança na largada passando Webber
que era o pole. Mas o melhor foi Hamilton que mesmo
partindo em 10º, já era o 6º no final da 1ª volta

Mas a pista foi secando e a situação se inverteu. Enquanto o desempenho de Hamilton foi piorando o de Alonso melhorou a ponto do espanhol ultrapassar na pista o inglês e recuperar a 3º colocação. O inglês imediatamente parou nos boxes e colocou pneus slicks do tipo "macio" assim como fariam todos os demais. Foi então que aconteceu o momento crucial da prova. A Red Bull se atrapalhou na troca de um pneu traseiro de Vettel e o alemão voltou em 3º atrás de Alonso e Hamilton. Webber, Button e Massa vinham atrás de Vettel. O alemão começou a se aproximar de Hamilton, mas não conseguia uma forma de passá-lo. A solução foi antecipar a terceira troca de pneus, o que acabou dando certo. Vettel voltou em 2º, atrás apenas de Alonso.


O momento decisivo da corrida : Vettel tem problemas
na 2ª troca dos pneus, perdendo a liderança e
caindo para o 3º lugar. Um erro da Red Bull
que se revelou fatal

Pela primeira vez no ano a Red Bull de caça virou caçadora, mas quando se esperava um reação de Vettel nada de fato aconteceu. Pelo contrário. Em vez de diminuir a diferença, o espanhol foi ficando cada vez mais distante e o alemão passou a se preocupar apenas em chegar em segundo. Ainda na terceira parada para troca de pneus, os ponteiros sofreram uma baixa. Inexplicavelmente uma roda dianteira da McLaren de Button foi mal fixada e o inglês teve que abandonar na saída dos boxes. Na 40ª volta, faltando 12 para o final, as posições eram : Alonso, Vettel, Hamilton, Massa e Webber. Só que Massa demorou muito para fazer a sua última parada, o que ninguém entendeu, e quando parou o australiano acabou subindo para 4º.


Hamilton foi junto com Alonso o melhor piloto da prova. O
inglês largou em 10º e chegou em 4º, fazendo várias
ultrapassagens, saindo duas vezes da pista e quase
se envolvendo em um acidente
com Massa na volta final

Enquanto isso a equipe McLaren pedia para Hamilton diminuir o ritmo para economizar combustível, uma coisa um tanto imcompreensível numa corrida em que boa parte dela foi disputada em pista molhada onde a velocidade e o consumo são menores. Com isso o inglês não pode segurar Webber que o passou garantindo um lugar no pódium. Nas últimas voltas tivemos ainda disputas que só terminaram com a bandeirada. Webber foi se aproximando de Vettel, mas não conseguiu passá-lo, assim como Massa que chegou a bater rodas com Hamilton que ainda garantiu o 4º lugar depois de uma corrida das mais combativas.


Rosberg chegou em 6º com sua Mercedes, mas lamentou
não ter largado mais à frente para poder
ameaçar Hamilton e Massa

Alonso estava eufórico depois de uma grande atuação sua e da Ferrari. Para o espanhol engana-se completamente quem acredita que a vitória só aconteceu devido a mudança de regulamento, dizendo que as melhorias feitas na Ferrari foram muito mais fundamentais. Alonso igualou a marca de 27 vitórias de Jackie Stewart, o que o coloca junto com o escocês como o 5º maior vencedor de GP. Para a Ferrari foi também um excelente modo de comemorar os 60 anos da 1ª vitória da equipe na F1 , no G.P. da Inglaterra de 1951, também em Silverstone, com o argentino Froilan Gonzalez.


Vettel, Alonso, Domenicali e Webber. O alemão não
quis alimentar a polêmica e falou que a Ferrari
mereceu vencer pelas melhorias que tem
sido feitas no carronas últimas corridas

Ao contrário do que se poderia esperar Vettel não quis criar polêmica sobre a vitória da Ferrari limitando-se a dizer que a equipe italiana foi melhor e mereceu vencer : "eles foram mais rápidos, temos visto que eles tem melhorado nas últimas corridas". Já Webber, em 3º, estava irritado com a equipe porque ela pediu que não tentasse passar Vettel no final que tinha problema nos pneus : "Claro que ignorei o pedido e lutei até o fim. Sebastian estava fazendo seu melhor, eu estava fazendo meu melhor. Não iria bater nele”. Pois é. Tem gente que achava que a Red Bull é diferente das demais, mas depois do acidente entre seus dois pilotos na Turquia no ano passado, era evidente que isso seria considerado completamente inadmissível se ocorresse novamente. Christian Horner não deve ter gostado nada da postura de Webber, que parece estar mesmo com os dias contados na equipe.



Hamilton, que chegou em 4º, foi junto com Alonso o melhor piloto da prova. Temos criticado bastante o inglês aqui, mas desta vez ele não teve culpa no choque com Massa na última volta. Era evidente que Hamilton não iria permitir que Massa o passasse praticamente na última curva em uma corrida dentro do seu próprio país. Massa percebeu isso e disso muito corretamente que tratou-se de uma acidente de corrida, mesmo porque o brasileiro tentou passar o inglês por fora da curva e Hamilton evidentemente não facilitou em nada. Massa vê com otimismo a previsão para a 2ª parte do Mundial : "aqui em Silverstone estivemos juntos da Red Bull, vamos ver nas demais pistas."



Os pilotos da Mercedes chegaram em 6º e 9º lugares com Nico Rosberg e Michael Schumacher. Nico esteve satisfeito com o desempenho do carro em todo o final de semana, lamentando apenas não ter largado mais à frente para poder ameaçar Hamilton e Massa no final. Já Schumacher assumiu a culpa por um acidente com Kobayashi, mas não entendeu a punição : "Errei e depois pedi desculpas. Só queria entender por que recebi um "stop & go" em vez de um drive-through, perdi um tempo imenso, a punição foi dura demais."

Fecharam a zona dos pontos Sergio Perez em 7º, obtendo o melhor resultado de sua carreira, Heidfeld em 8º e Alguersuari em 10º, pontuando pela terceira vez consecutiva nesse Mundial.


Ao chegar em 7º, Sergio Perez obteve o seu melhor
resultado na F1. Já a Sauber é a 6ª no Mundial de
Construtores, um colocação impensável no
inicio do campeonato

Vimos em Silverstone uma grande vitória de Alonso e da Ferrari, mas agora todas as atenções estarão voltadas para o que vai acontecer em Nürburgring daqui há duas semanas. Se a Ferrari mostrar na Alemanha o mesmo desempenho que teve na Inglaterra, teremos testemunhado uma das maiores reações já vistas de uma equipe durante um Mundial na história da F1. E desta vez ninguém poderá levantar nenhuma suspeita de favorecimento da FIA...

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