quarta-feira, 23 de março de 2011

Campeão sem coroa ( Parte II )

Pironi estava perto de ser o 1º francês
campeão  na F-1. Mas um acidente
em Hockenheim acabou com
o seu sonho e sua carreira.

Damon Hill não foi o primeiro campeão discutível na F-1, a categoria proporcionou outros mais que tiveram a sorte de estar no lugar certo na hora certa, como foram os casos de Phil Hill em 1961, Denis Hulme em 1967, James Hunt em 1976, Keke Rosberg em 1982 e Jacques Villeneuve em 1997. Se esses foram campeões, outros tantos que mereciam mais, não foram. Além dos já citados Moss, Gurney e Alesi, entram nessa lista, entre outros, Tony Brooks, Chris Amon, Jacky Ickx e Carlos Reutemann. Sem contar uma série de pilotos que viraram verdadeiros mitos como veremos agora.

Cevert comemorando sua 1ª vitória na F-1 em
Watkins Glen, no G.P. dos EUA de 1971.
Dois anos depois, a morte no mesmo circuito.
Em vez do triunfo, a tragédia

Assim como as Copas do Mundo, a F-1 cria também suas injustiças. A Holanda não foi campeã em 1974, mas todos se lembram do "Carrossel Holandês". Da mesma forma, a F-1 se lembra de vários pilotos que não obtiveram o título máximo, só que nesse caso por terem morrido ou terem sido feridos em acidentes. E a lista é grande...

A França pelo menos em duas oportunidades perdeu a chance de ter um campeão na F-1 devido a acidentes. O primeiro quando François Cevert morreu nos treinos para o G.P. dos EUA de 1973. Cevert era o escudeiro e pupilo de Jackie Stewart na Tyrrell, e passaria a ser o 1º piloto da equipe em 1974 com a aposentadoria do escocês. Sua morte adiou o sonho da França de ter finalmente um campeão na F-1. Em 1982, o tabu parecia que ia ser quebrado. Didier Pironi, da Ferrari, liderava com folga o campeonato quando sofreu um gravíssimo acidente nos treinos para o G.P. da Alemanha. Com múltiplas fraturas nas pernas deixou de participar das últimas cinco corridas do ano e perdeu o título para Keke Rosberg por cinco pontos... Jamais voltaria a F-1  e morreria num acidente de lancha náutica em 1987.

Para favorecer Fangio ( esq ) , Collins ( dir )  renunciou ao título
do Mundial de 1956, achando que teria ainda muitos
anos para ser campeão. Estava errado.

A morte prematura privou a Inglaterra de ter também alguns campeões. Peter Collins, em 1956, teve a oportunidade de ser campeão pela Ferrari. Ele disputava o título, em Monza, com Moss da Maserati e o companheiro de equipe, Juan Manuel Fangio. Quando o argentino quebrou, bastava a Collins manter o segundo lugar que seria o campeão,  mas o inglês cedeu o seu carro à Fangio ( naquela época, podia ) por entender que o argentino merecia mais o título e que estava no final da carreira. Os pontos do  segundo lugar foram divididos entre Collins e Fangio e o argentino se sagrou campeão. O gesto pra lá de nobre de Collins não seria recompensado no futuro. No G.P. da Alemanha de 1958 ele encontraria a morte, aos 27 anos, depois de um acidente quando disputava a liderança. O automobilismo, por vezes, é o mais cruel dos esportes.

Esperança britânica, Tony Brise faleceu em um acidente
aéreo com toda a cúpula da equipe do
ex-bicampeão de F-1, Graham Hill.

Outra esperança britânica perdida foi Tony Brise. Apontado com futuro campeão, Brise teve uma passagem meteórica e curta na F-1. Estreou no G.P. da Espanha de 1975 e só disputou 10 GPs, obtendo como melhor colocação um sexto lugar. No entanto, impressionou, pois sofreu várias quebras e acidentes quando estava próximo dos lideres com um carro apenas mediano, o Hill Ford, da equipe de Graham Hill. Muitos jornalistas acreditavam que ele seria melhor até que o piloto inglês mais badalado da época, James Hunt. Só o futuro diria se eles estavam certos. Futuro que não viria. Em novembro de 1975, um acidente aéreo matou toda a cúpula da equipe Hill, incluindo o patrão  Graham Hill e Tony Brise.

Stefan Bellof : o maior talento que a F-1 perdeu
em todos os tempos. O alemão não é lembrado pelo
que fez na F-1 e sim pelo o que poderia ter feito.

O destino de Brise foi tão perverso que o seu nome só é lembrado por alguns aficcionados do esporte. O mesmo caso vale para Stefan Bellof. O alemão é considerado o maior talento perdido na F-1 em todos os tempos. E, assim como Brise, não é lembrado pelo que fez na F-1 e sim pelo o que poderia ter feito. Bellof estreou na F-1 em 1984 pela Tyrrell ao mesmo tempo em que corria pela Porsche no Mundial de Marcas. Neste campeonato o alemão brilhantemente conquistaria o título, mas na F-1 a caminhada foi difícil. O melhor resultado foi um excepcional 3º lugar alcançado no dilúvio de Mônaco. Corrida que todos lembram que foi interrompida quando Ayrton Senna se aproximava do líder Alain Prost. O que ninguém lembra é que, ao mesmo tempo, Bellof se aproximava de Senna...

Mônaco 1984 : corrida antológica de Bellof. Todos se lembram
que Senna se aproximava de Prost, mas poucos se
lembram que Bellof se aproximava de Senna...

No entanto, nos meados de 1984, foi descoberto uma irregularidade no combustível dos carros de Ken Tyrrell e a equipe perdeu todos os pontos da temporada, sendo eliminada do restante do campeonato. Em 1985, Bellof voltou pra F-1, ainda pela Tyrrell, e continou correndo no Mundial de Marcas, agora como o então campeão. Quando começou a ser sondado para correr pela Brabham BMW na temporada de F-1 de 1986, Bellof foi disputar os 1.000 Kms de Spa. Numa disputa pela liderança, com Jacky Ickx, os dois Porsche se chocaram na temível Eau Rouge e Bellof encontrou a morte, aos 27 anos, antes de começar a desfrutar do sucesso na F-1 que parecia tão próximo.

Ronnie Peterson, o "sueco voador", um dos
pilotos mais rápidos de toda a história da F-1.
Se os nomes de Tony Brise e Stefan Bellof não chegaram a figurar entre os maiores na F-1, por absoluta falta de tempo, o mesmo não vale para Ronnie Peterson e Gilles Villeneuve. O sueco e o canadense, juntos com Stirling Moss, estão sempre na lista dos maiores pilotos de Fórmula 1 de todos os tempos, apesar de nunca terem ganho um título mundial. O sueco em sua segunda temporada, em 1971, conseguiu ser vice campeão. Depois em 1973, foi contratado pela Lotus para correr ao lado de Emerson Fittipaldi. Rapidíssimo fez 9 pole positions ( recorde na época ) contra apenas uma de Emerson. Nas corridas, no entanto, nem sempre o Lotus aguentava o ritmo imposto pelo sueco. Dizia-se na época que se as corridas durassem apenas uma volta, ninguém venceria Peterson.

A Lotus em 1973 venceu 7 GPs , sendo que 4 foram com Ronnie. O título, no entanto, foi para Jackie Stewart, da Tyrrell. Se sentindo preterido pela equipe, Emerson deixou a Lotus e foi para a McLaren. Em 1974, Peterson venceu 3 corridas de forma magnífica, mas depois a Lotus entraria em crise. Um péssimo ano da equipe em 1975, e não vendo progresso num futuro imediato, fez o sueco abandonar a Lotus depois da 1ª corrida de 1976. Um erro crasso.


Desacreditado, Peterson deu a volta por cima na Lotus em 1978.
Mas o ano que marcaria seu renascimento para a F-1,
seria também o ano de sua morte.

Peterson passou o ano de 1976 na March e o de 1977 na Tyrrell, obtendo apenas uma vitória, enquanto isso a Lotus voltava a ser muito competitiva vencendo 6 GPs nesse período. Em 1978, foi chamado de volta à Lotus, para ser o segundo piloto de Mario Andretti. Sem opções, aceitou. Durante todo o ano ficou claro que Ronnie era tão ou mais rápido que Andretti, que terminaria o ano campeão, mas o sueco respeitou o contrato. Insatisfeito resolveu deixar a equipe e assinou com a McLaren para 1979. No entanto poucos dias depois, um acidente na largada do G.P. da Itália envolveu 10 carros. Peterson foi retirado do carro com as pernas destruídas e morreu de embolia no dia seguinte.


Gilles Villeneuve bem no seu estilo. Mesmo sem nunca
ter sido campeão, o canadense foi o maior
ídolo que a Ferrari já teve.

Se a F-1 tinha perdido Ronnie Peterson, um novo mito aparecia nas pistas : Gilles Villeneuve. Um ano antes, em 1977, havia estreado na F-1 depois de obter um 7º lugar no grid de largada do G.P. da Inglaterra com um obsoleto McLaren. A Ferrari imediatamente contratou o canadense. Em 1978, logo depois da morte de Peterson, obteve sua 1ª vitória na F-1, em casa, no Canadá. Ainda um tanto imaturo fez um grande campeonato em 1979, mas perdeu o título para o companheiro de equipe, Jody Scheckter, principalmente por obedecer a algumas ordens de equipe. O estilo de pilotagem de Gilles era tão arrojado e espetacular que a morte parecia questão de tempo. Em 1980 e 1981, a Ferrari tinha um péssimo carro, mas o canadense conseguiu vencer dois GPs, o de Mônaco e o da Espanha de 1981, que estão entre as maiores atuações de um piloto na história da F-1.


Gilles Villeneuve ( dir ) com Jody Scheckter e o engenheiro
Mauro Forghieri. O canadense seguiu as ordens de equipe
em 1979. Mas em 1982 seria traído por Pironi.

1982 parecia ser seu ano. Fez uma corrida sensacional no G.P. do Brasil, no Rio, e liderou com um carro com problemas até bater tentando segurar Nélson Piquet. Em Long Beach, mais uma batalha ( desta vez com Keke Rosberg ) e um terceiro lugar ( mais tarde seria desclassificado por uma irregularidade no aerofólio). Até que chegou San Marino. A Ferrari tinha como ordem deixar que seus pilotos disputassem posições a não ser que fosse pela liderança. Nesse caso as posições deveriam ser mantidas. Villeneuve fez isso ao longo de 1979, o que permitiu que Scheckter fosse o campeão. Em San Marino, Rene Arnoux, da Renault, era o líder e os pilotos da Ferrari, Villeneuve e Pironi, o seguiam nessa ordem. Quando Arnoux quebrou, Villeneuve lembrou-se do trato e pensou que tinha a corrida ganha. Enganou-se. Pironi o passou e os dois passaram a disputar a liderança. Por fim, Pironi venceu e Gilles prometeu nunca mais falar com ele. Ainda furioso, nos treinos para o G.P. da Bélgica, a corrida seguinte, bateu na traseira do carro de Jochen Mass, sendo atirado para fora do carro, morrendo instantaneamente. Mesmo nunca sendo campeão, Gilles Villeneuve, foi o maior ídolo que a Ferrari já teve.

Villeneuve tinha uma pilotagem tão arrojada e espetacular
que a morte parecia questão de tempo. Ela veio em Zolder,
na Bélgica, em 8 de maio de 1982.

Como se vê, a F-1 assim como outros esportes também tem suas injustiças. Grandes pilotos não foram campeões e outros apenas medianos, o foram. O que o futuro reserva para Robert Kubica ? Por vezes, como já foi dito, o automobilismo é um dos esportes mais ingratos.

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