sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Muito além de Maranello ( Parte I )

  O acidente entre Vettel e Webber no G.P. da Turquia  
serviu de alerta para a Ferrari
                  
            O Mundial de F-1 vai se aproximando do seu clímax final e ainda cinco pilotos tem boas chances de arrebatar a coroa de campeão de 2010. É um fato bastante incomum ter tantos candidatos potenciais ao título faltando tão pouco, mas o curioso é perceber que isso está em segundo plano. O que interessa ainda no circo da F-1 é satanizar a equipe Ferrari que parece ser a única responsável por todas as mazelas que aconteceram na categoria nos últimos 60 anos.

            O episódio do G.P. da Alemanha, em que Massa abriu para Alonso assumir a liderança, reabriu a velha discussão da validade do jogo de equipe, que aliás tem mais é que ser discutida mesmo. O problema é querer punir a Ferrari e esquecer o resto, como se fosse privilégio italiano fazer essa armação. Então é bom que seja dito, as outras equipes já fizeram ( e fazem ) jogo de equipe. Esse ano mesmo tivemos um outro caso e ninguém falou nada...

             Em primeiro lugar é impossível proibir esse jogo, porque existem várias formas de fazê-lo : a  descarada, que foi o que a Ferrari fez com Massa, e a sutil, que é bastante utilizada e, como o próprio nome diz, muitas vezes passa despercebida. Para tentar entendê-las, vamos começar pelo "caso Ferrari".  

 A Ferrari não quis correr qualquer risco de acidente e optou vencer o
G.P. da Alemanha com segurança. Alonso não consegue
conter a alegria. Já Felipe Massa...
                   
             No G.P. da Alemanha, Massa liderava e perdia terreno para Alonso que via Vettel se aproximando. Na F-1 de hoje é muito difícil ultrapassar, Alonso mesmo sendo mais rápido que Massa,  não o era  suficiente para passá-lo com segurança. O espanhol iria então ficar espremido entre o brasileiro e Vettel. O que a Ferrari pensou ? Vai se repetir o que aconteceu com a Red Bull no G.P. da Turquia quando Webber era líder e Vettel vinha se aproximando com Hamilton colado.

               Se delineava então a mesma situação : dois carros de uma equipe na frente - Red Bull na Turquia, Ferrari na Alemanha  e um carro de uma outra equipe em terceiro pressionando. E o que aconteceu em Istambul ? Os carros da Red Bull bateram ( ver video abaixo ) , entregando de bandeja uma vitória mais do que certa para a McLaren de Lewis Hamilton. Então qual foi o dilema  que viveu a Ferrari em Hockenheim ? Entre o risco de haver um acidente entre os seus dois carros e a certeza que com uma ordem de equipe seriam criticados mas garantiriam a vitória,  os italianos optaram pelo segundo. Estão errados ? 



               O que não dá pra entender é a falta de coerência que existe no meio da F-1. Quando os Red Bull se chocaram na Turquia a ordem geral foi meter o pau na equipe austríaca. Disseram que era inadmissível dois carros da mesma equipe se envolverem em um acidente, e pior, quando lideravam a prova ! Ou seja, seria melhor Webber, que era mais lento, abrir caminho para Vettel. Pois não foi justamente o que a Ferrari fez na Alemanha ? E os italianos foram crucificados por isto. Não, não dá pra entender, nem com boa vontade.

Jenson Button foi prejudicado por
uma decisão da McLaren no G.P. da
Turquia e ninguém falou nada...
           A definição do que é um jogo de equipe também ter que ser melhor entendida. Este da Ferrari é evidente, descarado. E o sutil ? Pois bem, aí é que está o principal problema e o que inviabilizou qualquer possibilidade de punição exemplar da FIA à Ferrari, já que para haver justiça tem que se punir qualquer tipo de jogo de equipe. E essa armação "discreta" aconteceu na mesma corrida na Turquia, quando após o acidente das Red Bull, as McLaren de Hamilton e Button passaram a liderar a prova. Qual foi a primeira mensagem que a equipe inglesa passou para seus pilotos ? "Poupem combustível" !!! Reveladora, não ?
    
              Se vocês repararem Button chegou a ensaiar uma tentativa de ultrapassagem sobre Hamilton e depois devolveu a posição. Hamilton ficou furioso e mesmo ganhando, pouco sorriu no pódium. Depois foi reclamar com a equipe. "Vocês não pediram para poupar combustível ? Como o Button faz isso ?"  Em tempo, "poupar combustível" é uma forma singela de dizer : "mantenham as posições, não ultrapassem". Um jogo de equipe clássico, evidenciado quando o próprio Hamilton perguntou à McLaren se poupar combustível significaria também que Button não tentaria ultrapassá-lo ( ver video abaixo )



              Resumo da ópera : a Ferrari na Alemanha e a McLaren na Turquia fizeram de forma diferente a mesma coisa - optaram por vencer a corrida, sem riscos.  E  a grande maioria dos jogos de equipes acontece dessa última forma. A equipe pede para seus pilotos não duelarem entre si com dois objetivos : o temor de um acidente ou favorecer o piloto que vem na liderança, o que não deixa de ser também uma armação em ambos os casos. Por isso quando a FIA proibiu esse jogo fez uma burrada sem tamanho, porque não levou em consideração todas essas possibilidades. 

               Nas próximas colunas vamos analisar como o jogo de equipe faz parte da história da F-1, quando o Brasil foi favorecido e prejudicado com essas decisões e porque proibi-lo é uma atitude utópica e ingênua.

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