segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Tragédia em Las Vegas era questão de tempo

Após bater no muro e nas telas de proteção o carro de
Wheldon explode em chamas. O choque direto
no cockpit matou o piloto imediatamente.
 

Quem acompanha a F-Indy estava aguardando há muitos anos ocorrer um acidente violentíssimo envolvendo uma dezena de carros num circuito oval e que ainda só não tinha acontecido por uma questão de pura sorte  Todos temiam que o fato mais cedo ou mais tarde se concretizasse e a "bruxa" finalmente resolveu aparecer da pior forma possível ontem nas 300 Milhas de Las Vegas que acabou resultando no maior acidente dos 100 anos de história da Indy, envolvendo 15 carros e que culminou com a morte do atual campeão das 500 Milhas de Indianápolis, Dan Wheldon.

A Indy é uma espécie de antítese da Fórmula 1 atual. Enquanto na categoria máxima se prega exageradamente o "risco-zero" ( filosofia de segurança de Max Mosley que visa eliminar a qualquer custo a possibilidade de um acidente grave ) na categoria norte-americana existe um tipo de vale-tudo. Essa filosofia da F1 teve início com a morte de Ayrton Senna em 1994 e que se intensificou com o passar dos anos. Hoje os carros são seguríssimos e os circuitos foram "mutilados" em prol da segurança. As grandes pistas foram sendo modificadas ou foram simplesmente alijadas do calendário da F1. Ficou tudo mais seguro, mas as curvas desafiadoras desapareceram e a emoção também...


O acidente envolveu 15 carros e pelo menos 5 deles
explodiram em chamas. Em 100 anos de história
da categoria, nunca se viu nada igual.

Já na Indy a segurança é vista com outros olhos, mesmo porque o maior diferencial da categoria americana são as pistas ovais e em traçados como esses não pode haver área de escape, brita, então qualquer escapada do piloto torna o choque com o muro inevitável. O perigo na Indy faz parte sempre do negócio, o piloto que tem medo que vá buscar outra categoria...

O "risco zero" da F1 e o "vale tudo" da Indy tem um preço. O da F1 já foi dito, mas em relação a Indy... Desde o acidente fatal de Senna em 1994, nenhum piloto morreu na F1. Mas na categoria americana foram sete os que encontraram a morte nas pistas : Scott Brayton e Jeff Krosnoff em 1996, Gonzalo Rodriguez e Greg Moore em 1999, Tony Renna em 2003, Paul Danna em 2006 e agora Dan Wheldon. Quer dizer, desde 1996, praticamente uma morte a cada dois anos, um número elevado mas de certa forma "compreensível" por ser o automobilismo, afinal, um esporte de risco. Como se diz nos bastidores não é possível você ter tudo sobre controle em um circuito oval andando numa média de 350 km/h cercado por outros carros. O coquetel se revelou explosivo ontem e deu no que deu.

O momento do choque de Wheldon em Viso. O piloto inglês
poderia ter saído inteiro, mas o destino quis que o cockpit
  fosse atingido em cheio quando o carro bateu no muro.

Mas o fato do automobilismo ser um esporte de risco não implica em irresponsabilidade e isso acabou gerando a tragédia de Las Vegas. A pista americana é extraordinariamente curta ( pouco mais de 2 Kms ) e bastante estreita, não comportando jamais uma corrida com 34 carros. Para se ter uma idéia em Indianápolis correm 33 carros em um traçado de quatro Kms numa pista muito mais larga e essa discrepância gerou preocupação nos pilotos ainda nos treinos. Além disso soma-se outro fator : na Indy corre praticamente quem quer, 2/3 do grid é formado por pilotos fracos ou com pouca experiência. O que aconteceu então era mesmo questão de tempo. Um choque no meio do pelotão entre Wade Cunningham e James Hinchcliffe deu início aos caos. Pelos menos cinco carros foram "catapultados" ao passaram por cima dos outros e voaram, explodindo no muro. Desde o início ficou claro que o caso de Wheldon era o mais grave. O piloto inglês bateu em Ernesto Viso, decolou e o carro virou atingindo o muro e a tela de proteção num ângulo que destruiu o cockpit do carro e que muito provavelmente matou Wheldon de imediato.


Wheldon comemora a sua segunda vitória nas 500 Milhas de
Indianápolis a apenas quatro meses atrás. Ao triunfar em
2005, Wheldon se tornou o 1º piloto britânico a vencer
as 500 Milhas desde Graham Hill em 1966.

A morte de Wheldon lembra o acidente que matou Ronnie Peterson no G.P. da Itália de F1 de 1978 em Monza. Alí logo depois da largada um choque envolveu 10 carros e o piloto sueco levou a pior. Ao ser atingido por trás por James Hunt, que foi fechado pelo então novato Riccardo Patrese, Ronnie perdeu o controle do carro que bateu em cheio no guard-rail e explodiu em chamas imediatamente. O Lotus voltou para a pista e foi atropelado pelos outros. Ronnie com múltiplas fraturas nas pernas acabou morrendo de embolia no dia seguinte.

Assim como Peterson, Wheldon simplesmente estava no lugar errado na hora errada. Quis o destino que no meio de vários pilotos inexpressivos envolvidos no acidente a fatalidade atingisse exatamente o mais talentoso deles, o campeão da Indy em 2005 e bicampeão das 500 milhas de Indianápolis. Era a vez de Wheldon. Como na maioria dos acidentes fatais no automobilismo, poderia ter sido qualquer um...

Um comentário:

Blog AchaCarro disse...

as cenas são realmente impressionantes. é uma pena convivermos com mais uma perda.