terça-feira, 5 de outubro de 2010

Jochen Rindt morreu no carro de Emerson ?

Monza, 5 de setembro de 1970 - Jochen Rindt sofre um acidente fatal na
curva Parabólica. Teria o austríaco morrido no carro de Emerson ?
 
Em abril deste ano, Emerson Fittipaldi concedeu uma entrevista emocionante  para o programa de Galvão Bueno no canal Sportv. Com sua simpatia habitual, Emerson falou de sua carreira no automobilismo desde o início no Kart. No entanto, uma afirmação do piloto me deixou intrigado : a de que Jochen Rindt morreu nos treinos do G.P. da Itália de 1970 com o Lotus que deveria ser pilotado por ele. ( ver o trecho da entrevista no video abaixo ). Emerson conta que destruiu o carro de Rindt nos treinos de sexta-feira e por isso o chefe de equipe da Lotus, Colin Chapman, mandou ele ceder o seu carro para o austríaco no sábado, quando aconteceria o acidente fatal. A informação, contudo, vai de contra-mão de tudo que  foi divulgado a respeito do acidente até hoje e, mais importante do que isso, contradiz o depoimento da época  do próprio Emerson.



Emerson teve entre 1969 e 1980 uma coluna excelente na revista Quatro Rodas onde ele contava tudo que acontecia nas corridas. Mais do que uma coluna, Emerson era o próprio repórter da revista, pois nos primeiros anos da década de 70 a editora Abril não mandava um jornalista especializado cobrir o Mundial de F-1. Era o próprio Emerson que fazia as reportagens e a revista até usou um slogan quando o brasileiro conquistou o título da F-1 em 1972 : "Nosso repórter campeão do mundo".             

Quatro Rodas Nº 123 - Outubro 1970
Em Outubro de 1970, saiu a edição da revista Quatro Rodas com o relato de Emerson sobre o G.P. da Itália. Reproduzimos aqui os trechos mais significativos contados pelo piloto brasileiro :

"Jochen Rindt morreu depois de um acidente na pista de Monza, na mesma curva Parabólica em que eu havia batido o carro no dia anterior. Poucos minutos antes de sair para duas ou três voltas de que não voltaria com sua Lotus 72, ele estava sentado comigo no boxe falando sobre o futuro. Eu estava esperando meu carro ficar pronto, depois da batida que escapei por muita sorte. (...) Pouco depois ele saiu para treinar. Só fui vê-lo de novo no hospital, onde ele chegou morto."

"A notícia do acidente me foi dada pelo chefe da equipe da Lotus, que veio correndo : "O Rindt se acidentou. O carro ficou arrebentado, mas parece que ele não sofreu nada. Vai continuar treinando no seu carro ou no do Miles."

  O título da matéria com o depoimento
exclusivo de Emerson Fittipaldi.
"Fiquei um pouco assustado, mas como ele estava pedindo meu carro para Rindt treinar, pensei que de fato nada de grave havia acontecido e pedi aos mecânicos que apressassem o trabalho, porque Rindt ia precisar do carro. Pouco depois vi um trailer parar no boxe e ouvi a sirene de uma ambulância na pista. Achei estranho todo aquele movimento e a preocupação voltou. Fui ao boxe de Rindt perguntar o que havia e soube que ele não estava bem : tinha sido levado para o hospital. Logo depois, o chefe de equipe mandou que recolhessem tudo, porque iamos embora de Monza. Foi quando percebi que o acidente tinha sido muito grave.  Carros e peças da Lotus foram recolhidos e levados de Monza e eu fui ao hospital. Rindt já estava morto." 
 
Jochen Rindt com seu Lotus 72, minutos antes do acidente que o matou.

"A semana que antecedeu o desastre de Rindt foi de grande expectativa para mim porque eu iria correr pela primeira vez num Lotus 72. (...) Os mecânicos haviam trabalhado muito para que eu tivesse o carro em Monza. Todos demonstravam enorme boa vontade e estavam eufóricos com o novo carro. Para mim, ele tinha um significado especial : era feito especialmente para eu pilotar." 
 
"Os trabalhos finais com meu Lotus 72 me fizeram perder a primeira hora e meia de treino. Rindt e Miles já estavam treinando, quando afinal o terceiro Lotus 72 da equipe, o meu, ficou pronto para os treinos. (...) Dei umas quatro ou cinco voltas e parei nos boxes para uma vistoria geral. Quis tirar o aerofólio, porque Rindt e Miles já estavam rodando sem ele, e Chapman concordou". Depois Emerson contaria que voltaria a pista, e três voltas depois destruiria o Lotus 72.

   As primeiras notícias foram que Rindt escapara ileso.
A realidade porém era outra.
O gesto do mecânico da Lotus diz tudo.

É evidente que existem aspectos fundamentais que diferenciam os dois depoimentos. A questão que fica é : o que levou Emerson a fazer duas declarações tão antagônicas ? Em primeiro lugar é importante salientar que em nenhum momento o programa de Galvão Bueno anunciou que Emerson daria um depoimento com informações "jamais reveladas" sobre a morte de Rindt. Dado o inediatismo da notícia, isso teria que ser feito. Se não foi, é por uma razão muito simples : ninguém percebeu que Emerson não só deu uma informação inédita como também equivocada,  e que  foi aceita imediatamente pelo programa sem o devido cuidado. Será que Emerson omitiu a verdade no depoimento à revista Quatro Rodas na época e que todas as informações reveladas até hoje sobre esse acidente pelas revistas especializadas  estão erradas ? Não, claro que não. O que provavelmente aconteceu foi uma simples confusão feita por Emerson no programa e que foi intensificada por uma intervenção de Galvão Bueno que ratificou o engano do bicampeão mundial.

Vitória e morte andam mais juntas no automobilismo
do que em qualquer outro esporte.
1970 trouxe ambas para Jochen Rindt.
Se vocês repararem Galvão fez uma pergunta para Emerson ( com 1 minuto e 10 segundos no video ) que gerou toda a confusão : "se era lenda ou verdade que o Colin Chapman pediu para você fazer um teste e tirar as asas do carro". Emerson diz que sim ( no texto ele escreve que foi ele mesmo que pediu, porque os outros pilotos da Lotus já treinavam sem asas ) e começa a se confundir quando diz que pegou o Lotus de Rindt para amaciar o carro para o austríaco ( em nenhum momento do texto Emerson  menciona isso, sem contar que Rindt jamais deixaria um novato amaciar o seu carro, não só porque ele estava disputando um título mundial, como porque o brasileiro jamais havia pilotado o Lotus 72 e nunca tinha corrido em Monza ). Emerson então descreve o acidente e aumenta a confusão quando responde afirmamente a pergunta de Galvão ( aos 3 minutos ) :  "se era verdade que o Chapman então virou para você e falou que ia dar o seu  carro para o Rindt ? ". Galvão depois, bem ao seu estilo, repete várias vezes que Rindt morreu no carro que Emerson iria pilotar. 

No G.P. da França, na espetacular pista de
Clermont-Ferrand ( foto ) , Rindt obteria a terceira
de suas cinco vitórias em 1970.
 Emerson com certeza se confundiu com o fato da equipe ter pedido que seu Lotus 72 fosse cedido à Rindt após o acidente do austríaco, o que acabou não se consumando, pois se pensava que Rindt estivesse bem. Como o engano se deu no momento mais emocionante da entrevista, o fato passou despercebido para Emerson. O que me parece estranho é que esses programas são gravados com grande antecedência e havia tempo suficiente para os editores do programa confirmarem ou não as informações relatadas. Dizer que Rindt morreu no carro de Emerson era um fato novo, e ninguém percebeu isso. Pior : era uma informação completamente equivocada. Este erro pode até ter sido detectado depois, mas deixaram passar, já que isso significaria refazer a cena toda da emoção ( sincera ) de Emerson e talvez fosse mesmo difícil voltar  atrás.  No entanto, com ou sem intenção, foi criada uma versão fantasiosa do acidente que matou Rindt. Cabe aqui um parêntese. 

Em um espaço curto de três meses, Emerson passaria por emoções
inimagináveis para um piloto que acabara de estrear na F-1

Emerson viveria em poucos meses de 1970 emoções inimagináveis para um piloto que acabara de entrar na F-1. Com apenas 23 anos, fez sua estréia com um 8º lugar no G.P. da Inglaterra, pilotando um carro da Lotus, a grande equipe da época, do "mago" Colin Chapman, tendo como companheiro de equipe, Jochen Rindt, o piloto que liderava o campeonato. Em sua segunda corrida, na Alemanha, chega em 4º obtendo seus primeiros pontos. Depois de um abandono na Áustria, vai para a corrida seguinte na Itália e sofre uma acidente feio na sexta, Rindt morre no sábado, a Lotus não corre e só volta no G.P. dos EUA, quando Emerson vence a prova dando a Jochen Rindt o título póstumo, o único até hoje na história da F-1. Com a morte do austríaco, Emerson se torna o 1º piloto da Lotus e já em 1972 se torna Campeão do Mundo, iniciando então a saga brasileira na F-1. 

A vitória de Emerson no G.P. dos Estados Unidos de 1970  deu a
 Jochen Rindt o título póstumo e ao Brasil seu 1º triunfo na F-1

Se alguém lê-se o roteiro diria : é inacreditável. Não, foi real. A história é fantástica, nada mais precisava ser colocado. Contudo, algo fugiu do controle da produção do programa e uma informação adicional foi passada sem o devido registro. Curiosamente a "nova versão" do acidente, e que vem sendo ainda repetida constantemente por Galvão Bueno nas transmissões de F-1, acabou transformando uma história extraordinária num enredo, agora sim, de fato, inverossímel...


6 comentários:

Jonas disse...

Interessante a comparação com a versão da revista. Alguém já perguntou diretamente ao Emerson sobre este fato eu outro momento menos intenso emocionalmente? Valeria a pena...

Lamartine disse...

Emerson não teve nenhuma culpa sobre o acidente com o Jocken Hindt, acho que isto já foi, o piloto foi campeão graças ao próprio Emerson.

Anônimo disse...

Primeiro boa tarde a todos. Olha, eu como profundo conhecedor de f1 e principalmente da carreira deste fantástico piloto alemão radicado na Áustria Karl Jochen Rindt,tenho uma coisa a dizer: qualquer pessoa que esteja ao lado do Galvão Bueno acaba se equivocando porque ele é o equívoco em pessoa,é como doença contagiosa, ficou perto pegou. Agora estou aqui para contar os verdadeiros fatos, coisas que pouca gente sabe mais que são reais. Os carros da lotus já chegaram a Monza sem as asas dianteiras, mas como nos primeiros treinos eles foram muito lentos nas retas,Chaplin ordenou que fossem retirados os aerofolios traseiros também. Rindt foi o primeiro a andar com essa configuração e quando retornou disse que o carro estava muito inseguro, pedindo para que Chapman mandasse buscar uma lotus 49 para ele correr.(a 49 foi concebida sem os aerofolios ganhando tais acessórios com o decorrer de sua evolução. Assim o modelo se comportava muito bem em sua configuração original. Acontece que o modelo 72 foi concebido com aerofolios e a retirada de tais acessórios poderia mudar completamente a aerodinâmica do carro, sendo que foi exatamente o que aconteceu.) Chapman vetou a idéia dizendo que não iria retroceder no tempo e que Rindt teria que se virar com o que tinha nas mãos: ou seja, um carro instável e com sérios problemas de durabilidade e resfriamento dos discos de freio, se agravando em Monza, que na época se fazia quase a volta toda de pé embaixo, se usavam os freios apenas na entrada da parabólica e foi exatamente ali que o freio dianteiro direito falhou lançando o carro de encontro ao guard-rail bem onde estava fixado um palanque que apoiava as lâminas. Quanto ao resgate, pouco havia a se fazer pois Rindt teve um traumatismo muito grande no tórax e também porque foi literalmente enforcado pelo cinto de segurança(Rindt não gostava de fixar a parte do cinto que passa pela virilha) quando escorregou para dentro do cockpit. Bernie Ecclestone que na época era manager de Rindt, falou em depoimento no filme letzter sommer( último verão ) que não adiantaria o socorro ter sido rápido pois Rindt já estava fatalmente ferido. Sem mais delongas, isso é para o pessoal realmente saber da verdade e não ficarem falando besteiras por aí.

Anônimo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anônimo disse...

Ele seria campeão de qualquer forma,Jacky Ickx precisava vencer as três que faltavam, mas chegou em quarto na vitória de Emerson. Mesmo que o brasileiro não tivesse figurado na classificação, o belga teria sido terceiro e perdido o campeonato da mesma forma!

Anônimo disse...

Ele seria campeão de qualquer forma,Jacky Ickx precisava vencer as três que faltavam, mas chegou em quarto na vitória de Emerson. Mesmo que o brasileiro não tivesse figurado na classificação, o belga teria sido terceiro e perdido o campeonato da mesma forma!